26/04/07

SIMPLEX. DELÍRIO FEBRIL DE JOÃO GESTA.

As próximas linhas são da responsabilidade do partido do governo.

O executivo do piloto-aviador José Sócrates vai propor à Assembleia da República a aprovação de uma linha de crédito para promover a acção artística de novos talentos, preferencialmente nas áreas da literatura, da moda e dos bordados.

Poderão concorrer ao referido apoio os seguintes talentos, nascidos em território nacional e/ou na Malveira:

- engenheiros de papel
- engenheiros com a mania dos monstros
- pataniscas que tenham sido comidas a norte do Mondego
- poetas-esfregões
- o Armando Vara
- rabos de boys
- o Armando Vara
- pequenos arenques por fumar
- enguias da Murtosa que não tenham inscrição na “Universidade Independente”
- jovens casadoiras com sete saias e, pelo menos, um ovário

Jovem-coisa:

Se tens mais de 10 semanas, és saudável, se tiveste o azar de nascer em Portugal e/ou na Malveira, NÃO HESITES, envia-nos o teu projecto, explicitando se gostas de ficar por cima ou por baixo.
Só tens de indicar o teu nome completo, a morada da toca abjecta onde te acoitas, o nome do dealer que serve a tua área de sobrevivência e a idade do torneiro-mecânico que, miseravelmente, andas a comer às escondidas da tua mulher.
Depois, lê em voz alta um poema do Baudelaire e esfrega-o docemente no rabo. Se não tiveres rabo, esfrega-o na alma.
Mete tudo (a candidatura e o poema devidamente esfregado) num envelope e envia para o presidente do Gil Vicente ou para o Gomes de Pinho. Tanto faz. São ambos patéticos e, como tal, muito competentes.
Uma última nota:
Se não tiveres em casa um poema do Baudelaire, podes esfregar o rabo num pensamento do Padre António Vieira, num ligamento do Pedro Emanuel e por aí fora, até chegares ao útero da Josefa D´ Óbidos ou, mais à frente, ao cruzamento da Carvalhosa.

Deixa o resto connosco.
Ousa.
O país precisa de ti. Nós, nem por isso.

(poema de amor escrito na madrugada do 25 de Abril de 2007. Dedico-o a todos os meus Amigos e, em especial, à Sandra, uma amiga às esquerdas. Amo-vos.)

Exposição do Luís Tobias



fotografia de Luis Tobias

de 5 a 30 de Maio

Inauguração ás 21h30


Luis Tobias está de volta ao convívio com a cidade. Em MUTAÇÕES expõe fotografia recente, tomada em negativo, desenvolvida e impressa digitalmente. O tema MUTAÇÕES sempre tem estado presente na obra do autor, que desta vez, o representa ensaiando uma "suite" de forma e cor inspirada num dia de chuva, que começa a preto e branco e se transmuta ao sabor de um sol que Luis Tobias conhece e quer.
Pode aceder a mais informações sobre Luis Tobias em site de luís tobias

A exposição é no:
Clube Literário do Porto
Rua Nova da Alfândega, n.º 22 4050-430 Porto T. 222 089 228

24/04/07

Esta democracia sem respeitinho nenhum leva-me a isto: roubados da net estes belos e estranhos cravos tem vermelho quente e folhas espinhos. 25 abril. sempre.



23/04/07

A Flor e a Náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.


Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

13/04/07

"A ÚNICA DIGNIDADE DA VIDA É NARRAR-SE. OUVIR-SE NOS ANFITEATROS. O RESTO É FOME, VIOLÊNCIA E ESPERMA."

Hoje, estreia nacional em Famalicão (Casa das Artes), da peça "VOU MUDAR A COZINHA".
É um trabalho a partir da selecção de três contos do escritor Ondjaki em que o fio condutor é a personagem Mulher e a solidão. Três contos, três personagens, interpretadas por uma actriz (SANDRA SALOMÉ) e por uma cantora (ANA DEUS).

Para as "nossas" meninas, neste dia de todas as emoções e todos os medos, um poema novinho em folha do Vasco Gato:

No teu banho eléctrico,
como uma âncora acesa que a ferrugem não
separa.

Sei que existes, que rodas devagar
nas águas que esperam, que atravessas
ao pé-coxinho os mapas
afortunados.

Ofereço-te a boca da minha juventude.

Eu que escavei as paisagens
e encontrei apenas jóias inquietas.

(in "Omertà"/ edições quasi)

12/04/07

Moon River

Para a Capela. Temos saudades.

MULHOLLAND DR. - SILENCIO

11/04/07

Hoje, 11 de Abril, às 21 horas


“A Cidade Líquida e Outras Texturas” de Filipa Leal
apresentado na Biblioteca Municipal de S. João da Madeira


Em informação fornecida pela “Deriva Editores”, lê-se que os poemas de Filipa Leal “dão voz a um gesto de libertação individual em deriva constante”. Acrescenta-se que “desta ligação íntima, proposta ao leitor de A Cidade Líquida e Outras Texturas, emerge um sujeito cujo rosto se confunde com a própria rota que vai construindo”.
Filipa Leal, nasceu no Porto em 1979. Formou-se em Jornalismo na Universidade de Westminster, em Londres, e concluiu o Mestrado em Estudos Portugueses e Brasileiros pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (onde apresentou a dissertação sobre os “Aspectos do cómico na poesia de Alexandre O’Neill, Adília Lopes e Jorge de Sousa Braga”).
Jornalista cultural, é de salientar a sua colaboração no suplemento “das Artes, das Letras”, de “O Primeiro de Janeiro”, para o qual já entrevistou diversas figuras de destaque da literatura portuguesa e estrangeira. Recitadora e locutora, colabora regularmente com o Teatro do Campo Alegre, no ciclo “Quintas de Leitura”, e integra o colectivo poético “Caixa Geral de Despojos”. Participa nos Seminários de Tradução Colectiva de Poesia da Fundação da Casa de Mateus.
Em 2003, Filipa Leal publicou “Lua-Polaroid” (ficção), da Corpos Editora, e, em 2004, “Talvez os Lírios Compreendam” (poesia), da Cadernos do Campo Alegre.

Aproveito ainda para deixar a ligação a um elogio (Rosa Necessária) já com alguns anos que a Filipa recebeu em relação à entrevista a Ramos Rosa que em tempos publicou n'O Primeiro de Janeiro.

09/04/07

CUMPLESCRITAS COM RENATO ROQUE



O meu amigo Renato Roque, fotógrafo genial, desafiou-me para participar no seu projecto "cumplescritas".
Eu aceitei.
Inspirado na sua bela fotografia, consegui esgalhar este poema quase normal:

ENTRE-OS-RI(S)OS

adivinho no teu olhar
um rio
que não pode não deve
desaguar em mim

vejo no teu sorriso
uma árvore
que florescerá
ao ritmo de um coração estrangeiro

refugio-me
nas margens da minha solidão
pesco futuros de plástico
na foz do meu desencanto

denuncio-me
enquanto não chega a alvorada