25/06/07

ESTAMOS SÓS COM TUDO AQUILO QUE AMAMOS

A Mafalda fez anos. Poucos. Quando a Mafalda faz anos o povo vem para a rua festejar, comer, olhar para o ar e bailar até às tantas. Alguns fazem amor pela terceira vez, às escondidas do fisco. Quando a Mafalda faz anos a cidade forra-se de alecrim e de alfazema e as moças casadoiras fazem chichi atrás dos arbustos.
Quase me esquecia de vos contar que a Mafalda é uma princesa de um reino adormecido, atravessado por um grande aeroporto que ninguém sabe onde fica. Diz-se que só lá poisam pombinhas de maçapão e abutres sem pasta. Quando a Mafalda faz anos, e lhe apetece, vem à janela e atira moedas de chocolate e ácidos para o povo. O povo prefere os ácidos. É um povo pobre, mas não é estúpido. Quando a Mafalda faz anos dá cabo da escuridão do mundo. Juro-vos.

Um dia, um dos poetas do reino (E. Mello e Castro) ofereceu-lhe este POEMA DE AMOR. A Mafalda lê-o sempre, antes de adormecer:

desejo-te não desenho-te
detenho-te não devejo-te
desejo-te não desejo-te

dessonho-te não decanto-te
diluo-te não dessinto-te
deslaço-te não desfaço-te

construo-te não contenho-te
concluo-te não condano-te
consinto-te não conlaço-te

componho-te não convejo-te
convido-te não começo-te
confesso-te não confalo-te

imponho-te não impeço-te
intacto-te não intalo-te
instalo-te não indomo-te

inlevo-te não instruo-te
inclavo-te não incluo-te
intenho-te não destruo-me

Entretanto, a Mafalda adormece e "foi apenas mais um dia que passou entre arcos e arcos de solidão.

1 comentário:

pat disse...

Muito bonito este texto gesta. Muitos parabéns princesa.