28/03/07

Suicídio Encomendado


Apologia do (bom) humor

Talvez o mundo se divida, sobretudo, entre os que sabem rir e os que não sabem. Ou seja: há os que sabem rir. Ponto. E há os que não sabem rir mas sabem fazer rir. Esses, por mim, estão perdoados. E há os que não sabem rir mas sabem respeitar os que riem. Esses perdoam-me. Mas depois há os que não sabem rir nem gostam que os outros riam, e falam disso, e escrevem sobre isso, e sentem-se melhor a dizer: não olhem, não vão, não riam, por favor fiquem aqui a ler os meus devaneios sobre o cinema alternativo da cueca.

Dito isto, que é só um desabafo a seguir ao qual me comprometo a compremeter-me e a dizer a verdade, chego finalmente ao ponto de humor negro.

«Suicídio encomendado», o filme de Artur Serra Araújo que estreou nesta edição do Fantasporto, é do melhor humor que se fez no Portugal recente. Portugal é um país de gente séria. Tão séria. Mesmo assim, na sala, o riso foi a verdade. (Os críticos riem por último, é pena...) Tinoco é um herói trágico (qual anti-herói!) do século 21, um vulgar herói de 30 anos com a vida virada do avesso. Se calhar, é preciso ter 28 anos (como eu) e viver numa cidade esquecida (como eu) para entender o que este filme tem de mais brilhante: tudo. Da subtileza dos diálogos à solidez das personagens. «Suicídio Encomendado» vem preencher uma lacuna na forma que Portugal tem de rir. E Tinoco, se não se suicidasse, poderia vir a ser um Mr. Bean à portuguesa. Com tempo. Continuado no tempo.

Pronto. Quem me conhece, sabe que não sou de grandes causas. Mas esta vale mesmo a pena.

PS:

A sinopse_Imagine-se em casa… O telefone toca, tentam vender-lhe alguma coisa, são os chatos do costume… Só que, desta vez, vendem-lhe um suicídio, o seu suicídio encomendado. Foi o que aconteceu a Luís Tinoco, um jovem com cerca de trinta anos e que já tinha pensado em morrer. Trata-se de uma personagem carismática, com uma infância bizarra e que actualmente não consegue viver feliz. Tinoco compra o seu próprio suicídio, preparado e elaborado de forma condizente com o motivo pelo qual deseja morrer: Amor.

O lugar_Cinemas Lusomundo - NorteShopping e GaiaShopping. Despachem-se!

20/03/07

DIA MUNDIAL DA POESIA


Caros visitantes, façam o favor de entrar no blogue das Quintas de Leitura do TCA para ficarem a saber como alguns elementos da CGD vão estar magnificamente activos neste dia de grande celebração. Há vozes no cinema ( autografia) e na rádio (tsf).

14/03/07

Free Hugs of Juan Mann in Portugal with portuguese people

free hugs. uma campanha que corre mundo. uma boa ideia.

Luminosa


Prefiro-te assim. Prefiro-te luminosa. Feliz. Prefiro-te na água. Dentro e fora. No ar. Flutuando. Prefiro as amigas. Os amigos. De coração. De alma. De peito aberto. Os que se entregam. Os que são verdadeiros e gostam disso. Prefiro-te aqui perto. Prefiro-te sabendo que estás deliciada. Longe. Do outro lado da cidade. Em Londres. Na Ásia. No Japão. Prefiro-te cúmplice. Prefiro-te a imaginar o que ainda nos há-de surpreender. Prefiro-te nos vinte e oito anos. Prefiro-te a trezentos e tal dias dos vinte e nove e a mil e tal dias de tantas e tantas histórias boas que estão à tua espera para te acontecerem. Parabéns.

12/03/07

Parabéns GESTA !!!


Hoje faço 54 anos





Hoje faço 54 anos.
É aquilo a que eu chamo uma idade de merda, uma idade vegetariana - nem é carne, nem é peixe.
Se é verdade que não estou, assim o espero, propriamente com os pés para a cova, também não deixa de ser verdade que já não posso competir com o Diogo do 5º esquerdo, polícia de profissão, músculos reluzentes à varanda, madeixa sedosa a tapar-lhe e não o olho azul, arma sempre em riste quando lhe aparece pela frente o inimigo ou as namoradas dos amigos mais chegados.
É certo que a idade também me deu (alguma) sabedoria e tolerância.
Sei dizer, sem titubear, onde ficam as costas do Pacífico e o fim das costas da Sónia, o bairro com a melhor coca da cidade, consigo mesmo descobrir o ponto "g" da Bárbara às escuras e, pasme-se, o apito (dourado) do Artur, sem óculos, sem mãos.
Quanto à tolerância, meus caros, estou um doutor.
Aceito, com bonomia, os kung-fús da Cristina, as mortes súbitas da Filipa, os atrasos da Mafalda, os atropelamentos e fugas da Coliveira, os decotes da Adriana, a energia matinal trifénica da Patrícia, os falhanços do Nuno Gomes, as sopas do Pedro Lamares, os espasmos governativos do Sócrates, os penteados do João Tiago, as camisas do Isaque. Tudo isto com um sorriso nos quatro dentes decentes que fui capaz de manter.
E até já tenho planos para os próximos doze meses, isto se a puta da vesícula não me atraiçoar como a Sónia:
1) conquistar a Sandra aos mouros.
2) reconquistar o Rivoli aos touros.

Plano alucinante, luminosidade inusitada, comichão nos farilhões orientais.

Fotos por PAT

07/03/07

CUIDADO COM OS RAPAZES

O Amor e a Revolução estão sempre na ordem do dia.
Morreu o Alface.
A CGD dedica-lhe um poema de Amor.
O melhor de todos:

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

02/03/07

OFÍCIO DE AMAR

Hoje o Pedro Lamares faz a idade obscena de 28 anos.
E continua fugido no Brasil por causa de uma paixão proibida.
Faz ele muito bem.
Quando chegares avisa, porque o Portas anda outra vez à solta no quintal e
não tem as vacinas em dia. Os amigos portugas enviam-te, a nado, este poema do Al Berto, com cheirinho
a vigílias.

OS AMIGOS

no regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias

tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite

prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume

ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausência